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O que aprendi com a terapia


Fiz terapia durante muitos anos. Pouco depois que parei, veio a pandemia e eu tive COVID. Um ano depois, recebi o diagnóstico de um câncer de mama. Dois episódios distintos que poderiam afetar seriamente meu emocional, pela gravidade e risco que representam.


Ficou claro para mim que a base que construí ao longo desses anos foi fundamental para me dar suporte, para identificar e elaborar as fases (semelhantes ao luto) que passei e reconhecer o momento de abrir as comportas.


Além de desenvolver o autocuidado, uma das coisas que aprendi no processo terapêutico foi a importância de expressar minhas emoções. Não gosto de anestesiar meus sentimentos. Evito medicamentos e sujeiras embaixo de tapetes. Prefiro deixar sair o choro, a tristeza, a incerteza, a raiva, a verdade.


Gosto muito de falar e quanto mais repito a história, mais clara e pacífica ela fica dentro de mim. Talvez por isso, uma das formas preferidas de organizar minhas ideias e entender o que está acontecendo seja através da escrita. Quando somos só eu e o papel (ou o computador), parece que consigo clarear mais.


Escrevo, leio, reescrevo, troco uma palavra ou uma frase de lugar, acrescento um parágrafo, vou amadurecendo o texto aos poucos. Não que eu tenha dificuldades em colocar um ponto final, de encerrar ciclos. Funciono assim porque acredito que estamos sempre nos modificando, nos aperfeiçoando. As sucessivas alterações nos textos são reflexo dessa busca pela minha melhor versão.


O blog é um bom veículo para incentivar a conclusão de um texto. Preciso terminar para poder publicar. Mesmo que depois edite para fazer alguma correção ou acréscimo. Ele também se presta como um baú, um diário da vida moderna, onde posso depositar minhas memórias. E compartilhar com outras pessoas.


Ao longo do meu tratamento do câncer, fiz várias postagens. Alguma com informações práticas e específicas sobre as fases que passei e outras mais confessionais, registrando minhas reações e interpretações pessoais dos fatos que vivi.


O mergulho do autoconhecimento abre horizontes e prepara a gente para encontrar respostas quando mudam as perguntas que já eram conhecidas. Ensina que a vida não é feita só de situações favoráveis nem de problemas. Aprendemos que ela é uma mistura de coisas boas e outras nem tanto, sem regras nem proporções. Não vamos deixar de levar o susto, mas não vamos ficar paralisados diante dele.


Cada um tem um tempo de maturação próprio para digerir os acontecimentos em suas vidas e reagir. Acredito que o processo terapêutico me ajudou a evitar o lugar comum, a escapar de armadilhas fáceis e foi o farol que iluminou minha navegação no mar revolto, enquanto eu buscava um porto seguro para ancorar.


Publicação original no blog "Macaquices e outras coisas"

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